Arildo é Paranaense, foi bancário, torneiro vertical, dirigente sindical do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, é sócio cooperado da UNIFORJA, onde exerce a função de assistente administrativo. Trabalha há 23 anos na cooperativa e atualmente exerce a presidência nacional da UNISOL.
A UNISOL Brasil, criada em 2004, é uma entidade de apoio e representação de empreendimentos econômicos solidários, de abrangência nacional. Ele é integrante da coordenação executiva do Fórum Brasileiro de Economia Solidária, do qual participa desde 2006 e também é membro do Conselho Nacional de Economia Solidária e do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
Como presidente de uma das entidades criadoras do Fórum Brasileiro de Economia Solidária e integrante do Conselho Nacional de Economia Solidária, qual sua avaliação sobre o movimento social da Economia Solidária hoje?
Eu o vejo como um movimento crescente que tem uma identidade, entretanto, falta uma organização mais coesa. É um movimento ainda muito interno. A sociedade brasileira em geral acha que o movimento da Economia Solidária é um movimento assistencialista, embora saibamos que esse é um movimento que trata da inclusão produtiva dos trabalhadores e trabalhadoras. Ele se organiza hoje através dos fóruns que são espaços de articulação, formulação, aglutinação, mas ainda estamos no início da estruturação desse movimento social da Economia Solidária, ainda temos muitos passos a percorrer. Por ser um movimento que é formado por outros movimentos (sindical, sem terras, ecologistas, mulheres, etc) é ainda muito disperso. Muitos trabalhadores que fazem economia solidária não se reconhecem como parte do movimento da economia solidária, mas sim do seu movimento específico. Por isso creio que ele ainda precisa criar corpo, crescer.
O FBES por sua própria definição se apresenta como um instrumento do movimento da Economia Solidária. Em sua opinião, ele está cumprindo esse papel?
Eu faço parte do Fórum e do Conselho Nacional de Economia Solidária. Elas são instâncias muito distintas. O Fórum é um espaço, de âmbito nacional, onde os empreendimentos solidários, as entidades de apoio e gestores se reúnem para debates, reflexões, mas não tem um caráter deliberativo. É um espaço aglutinador, mas que não traça tarefas concretas para cada um dos seus integrantes. Por isso digo que o fórum tem um papel fundamental, mas temos que tomar muito cuidado para onde ele se direciona para não suprimir as forças políticas e sociais que o compõe.
Como a UNISOL como uma das entidades que participa do movimento está fazendo esse debate?
Nós temos nossas pautas próprias que articulamos com outros movimentos, universidades e parceiros. Nós dialogamos com as entidades que na sua base praticam o cooperativismo e o associativismo. Pautamos nossa relação com o governo em conjunto com essas entidades. Com os empreendimentos organizados na UNISOL nós discutimos as diretrizes e posições estratégicas pra avançar na Economia Solidária. Essa é a forma de contribuirmos com o debate nas bases sociais do movimento. A UNISOL Brasil tem buscado a cada dia maior organicidade com a sua base de filiação, potencializando iniciativas desenvolvidas pelos empreendimentos no sentido da criação de redes e atuação dentro de cadeias produtivas, acesso a mercados, acesso a crédito, formação e construção de parcerias institucionais visando o incremento da renda dos trabalhadores e trabalhadoras envolvidos.
Como você avalia o atual estágio de organização dos EES?
Conforme o mapeamento dos empreendimentos solidários, realizado pela Secretaria Nacional de Economia Solidária, SENAES, do governo federal, hoje temos mais de 22 mil empreendimentos, somando em torno de dois milhões de trabalhadores na Economia Solidária, mas que ainda estão muitos na informalidade e dispersos na questão da representação, onde só 10% estão em alguma organização. Nesta IIª Conferência Nacional da Economia Solidária, CONAES, apontamos para a criação de uma Lei Geral e um sistema nacional que contribuirá muito para a formalização de diversos empreendimentos. Para isso precisamos de um novo marco regulatório adequado às realidades que vivemos e a expectativa de crescimento dessa economia solidária.
Qual o caminho para avançar no sentido de consolidar a Economia Solidária como um projeto de Desenvolvimento Econômico, qual a estratégia?
Temos que colocar esse tema dentro do programa dos partidos progressistas, enquanto política estratégica de desenvolvimento econômico e social. O Brasil pode gerar milhares de postos de trabalho. É possível organizar novos empreendimentos, seja de catadores até empresas que possam produzir bens de consumo duráveis, de inovação tecnológica. O problema é que desde jovens nós somos estimulados a trabalhar para o grande capital ou para o Estado, temos que quebrar esse paradigma, mudar a cultura, criar as empresas autogestionárias, gerando tributos para o Estado que reverte isso em bem estar para a sociedade, além do principal: agregar valor ao trabalho e distribuir a riqueza de nosso país, que é grande e pessimamente distribuída. Nós acreditamos que a melhor forma é o cooperativismo e a prática da autogestão. Nós da UNISOL estamos debatendo desde a esfera local até a nacional, colocando como pauta estratégica essa discussão da ES como política econômica e não como política assistencialista.
Creio que esse é o caminho, o movimento da Economia Solidaria está crescendo, mas as entidades têm que ter uma pauta única e estratégica, como já se está fazendo em relação ao Marco Regulatório, mas precisamos pensar nos próximos dez, vinte anos. Onde nós estamos e para onde nós queremos chegar. É possível geral trabalho e renda de forma associativa, não apenas no formato das empresas quebradas. Hoje temos novos espaços e novas possibilidades na economia que pode e deve ser ocupada pela Economia Solidária.
Fonte: Blog Brasil Autogestionário